pinceladas vivas

um blog mantido por José Rogério da Apresentação

Tuesday, February 28, 2006

Poemas dos meus (1)

1. Nota Introdutória


O curso "Da leitura à escrita, da escrita lúdica ao texto poético", promovido pelo Centro de Formação das Escolas de S. Miguel e de Santa Maria, e magistralmente organizado e dado pela então Mestre, Drª Maria da Graça Borges Castanho, coadjuvada pela Licenciada, Drª Graça Maria Carvalho Borges de Sousa Menezes, havia terminado dias antes naquele inesquecível mês de Setembro de 1994.
Aquecida então pelos raios tórridos recebidos naquele curso, minha esposa, Lurdes de Oliveira, ao tempo Professora do Ensino Básico, no activo, aproveitou o ensejo duma viagem familiar, realizada poucos dias a seguir, para escrever um poema. Inicialmente, quando lhe pedi, estava renitente em publicá-lo, ainda mesmo que fosse para este blog pessoal. Blá, Blá, e à força de muita argumentação, lá consegui que ela concordásse em inseri-lo aqui nesta página. Mas só aqui - disse -, em mais lado nenhum...
O poema constitui o seu 1º ensaio - e único - de poesia. Nunca, ao longo de toda a sua vida até agora, ela tentou fazer mais alguma coisa em verso. Mas é prova da força e do vigor dos sentimentos que então viveu, constituindo, por isso, um testemunho vivo e intenso, qual pincelada impregnada de mil cores e sons, que vale a pena ser lido.
Bem gostaria, por via disso, que este blog fosse lido por muita gente, sobretudo por quantos visitam ou pretendem visitar os Açores, oriundos das paragens mais díspares. É minha intenção, doravante, fazer desta página um arauto destas 9 magníficas ilhas, disparado directamente ao coração de todos os leitores, turistas potenciais ou ainda não fidelizados.
Estas 9 ilhas são apaixonada e amorosamente beijadas por este mar indómito e revolto de águas atlânticas. Um mar que é abrigo e morada das baleias, cachalotes, golfinhos e tubarões, que é sustento rico e amigo dos pescadores que o desafiam nas suas barcaças ligeiras, mas que é, simultâneamente, mais traiçoeiro que Judas, envolvendo barcos e homens num longo abraço, amigo e às vezes mortal, fazendo-os subir e descer, cair e voltar a subir elevando-os até ao alto cimo das cristas das ondas mais violentas e mais agressivas.
Estas águas revoltas e encapeladas invadem de maresia e gosto a sal os mais recônditos cantos destes 9 pedacinhos de terra - desde Santa Maria ao Corvo - que, olhando-se uns aos outros, parecem desafiar as lonjuras deste oceano infindo, misturando, sem tempo nem espaço, as cores brancas da espuma da rebentação contra os pontões, os cais de abrigo e as rochas íngremes da costa, com os tons cinzentos e escuros da neblina e da bruma que climatizam e encantam estas estonteantes ilhas açoreanas. Os gritos das garças das aves marinhas, sobrevoando as ondas de mar alto e alteroso, misturam o verde-azul marinho com o verde viçoso, refrescante e aguado, das ilhas recortadas por canadas, caminhos e estradas orlados por sebes e canteiros de flores radiosas, convidando de forma ostensiva, mas hospitaleira, o turista distraído a lançar-se em caminhadas pedestres ou a mergulhar nas águas profundas em caçadas submarinas intermináveis.
O poema é de alguém que é natural de S. Miguel, mas que, nem por isso, deixa de viver e sentir esta ilha, em cada dia, de forma dferente. As vivências de ontem, não são o que se sente hoje, nem o que se irá viver amanhã. Por isso, a magia desta "Ilha Verde". Por isso, o encanto renovado das outras 8 ilhas, todas elas lindas e todas elas diferentes umas das outras, cada uma com os seus recortes paisagísticos, vegetação e suas gentes distintas.
O poema retrata, de forma singular e pessoal, um passeio a várias partes desta Ilha do Arcanjo. Todavia, Açores não é só S. Miguel.....
Por isso, turista e caminheiro, vem daí, estás convidado a que embarques comigo, através deste blog, para que, aos poucos, e de modo continuado e persistente, seres tu a fazeres a tua própria pesquisa dos Açores. Já mostrei aqui um bocadinho da Graciosa [à qual prometo que vou voltar em breve para reproduzir em vídeo uma pequena reportagem que fiz.]
O poema está aí, como um pequeno contributo para a descoberta da Ilha de S. Miguel ....
Original escrito por: José Rogério da Apresentação
Em: Ponta Delgada, 28.02.2006
2. Poema: S. Miguel
Original escrito por: Maria de Lurdes Ferreira de Oliveira
Em: Ponta Delgada, 08.09.1994
1.
No meu carro peguei
P´ra percorrer toda a ilha,
Fui parar à Vista do Rei,
Meu Deus... Que maravilha!:













2.

Duas lagoas, lá no fundo,
Verde e azul eram suas cores,
Pareciam dormir sono profundo
No meio de vegetação e odores.









3.

A Ribeira Grande visitei,
E à Lagoa do Fogo subi,
Onde lá no Alto avistei
Um cenário como nunca vi.






4.
Na Caldeira Velha quis eu parar,
E vejam o que se pode sentir,
Forte desejo de sobrevoar
Para todos os cantos descobrir.


5.
Segui para Vila Franca
Não deixando para trás
O lindo Ilhéu que descansa
A olhar a Senhora da Paz.



6.
Por essas estradas fora
Vi flores e recantos deslumbrantes,
Mas não querem ver que agora
Temos cheiros a enxofre penetrantes?!...

7.
Nas Furnas já eu entrava,
A Lagoa e Caldeiras fui ver,
O turista as águas provava
E dela leva garrafas com prazer.


8.
No Parque Terra Nostra entrei
Para um banho quente tomar,
E várias fotos eu tirei
Para mais tarde recordar.


9.
A Povoação passei a correr,
Mas parei um pouco a descansar
No miradouro, para de lá ver
As lombas e depois poder contar.


10.
Ao Nordeste cheguei cansada,
Mas ´inda deu pra apreciar
o Pico da Vara e a Achada
E uma vegetação linda de pasmar.


11.
No regresso quis então parar
Junto à Piscina da Lagoa,
Foi quando ouvi um menino a chamar:
"Venha cá, senhora professôa!"


12.
À zona da Caloura então demandei
Para ver os barcos de pesca chegar,
Pois muito peixe encontrei
Para quem quisesse comprar.

Tuesday, February 21, 2006

Jantar de Compadres






Aquele jantar e tal.....






Olá, compadres e companheiros de jantar, na 5ª Feira passada!...


O jantar no Brilhante esteve 100% fixe, cumprindo todos os requisitos exigidos num repasto de compadrio.

Não consigo comparar se o do ano passado na Candelária, no Restaurante, como se chamava?, "Raião", não era?, julgo que sim, se foi melhor que o deste ano de 2006.


Pelo menos, o número de compadres, acho que aumentou.

Para o Ano de 2007, voltaremos a encontrar-nos em mais um convívio alegre, sadio e bem disposto. Se Deus quiser....

José Rogério da Apresentação

Original escrito em: Ponta Delgada, 22.02.2006

Sunday, February 19, 2006

Graciosa, cantinho da cordialidade....

GRACIOSA, COM AMOR ......


....UM CANTINHO DE CORDIALIDADE
Quando me desloco a esta magnífica ilha dos Açores, baptizada de "Graciosa", e rebaptizada de "Ilha Branca", compreendo a razão e os motivos porque este pequeno cantinho açoreano, a 20 minutos de voo da Terceira, através da qual se pode ver, num quadro de matizes delirantes, nos poentes da tarde, ou nos frescos matinais, as ilhas da Terceira, S Jorge e Pico, tem estes nomes. Vezes sem conta que ali vá, fico sempre com saudades de ali voltar.




Gente graciosa, hospitaleira, paisagem amena, pequena ilha que, sem grandes pressas, duas horas de carro, dá para correr e ver tudo.



Todavia, apesar da pequenez, fica sempre uma vontade de voltar, e de rever aquilo que já foi visto: - a Gruta do Enxofre, as Termas do Carapaxo, Guadalupe, a Folga, a Praia, a pitoresca Vila de Santa cruz, o Ilhéu da Baleia ali mesmo junto ao Farol, o Monte com a linda Capela da Graça .....








..... e a Praça de Touros, uns metros abaixo, a panorâmica de Sta Cruz vista deste Monte, a alegria esfusiante do Carnaval que se vive em cada uma das suas filarmónicas e clubes...








Um redobrar de motivos que me faz, sempre que lá vou, regressar cheio de vontade de lá voltar em breve. E voltarei, certamente, para lá curtir uma semana de férias e, sobretudo, para descansar e reganhar energias. As suas gentes simples e hospitaleiras, mais a frescura e o ameno da paisagem da sua ilha, são convite para ir lá e carregar baterias....


José Rogério da Apresentação
Original escrito em: 19.02.2006

Wednesday, February 15, 2006

Pinceladas Vivas - 8

Férias Inesquecíveis no Algarve



Naquele verão de 2005, foram férias diferentes....





As fotos, melhor que as palavras, relatam o que foi a nossa marcha pelo Portugal adentro, percorrendo o Algarve, do Barlavento ao Sotavento, subindo o Alentejo, Estremadura, Fátima, Coimbra e Aveiro.
Seis veraneantes, quatro deles emigrantes há longos anos no Canadá, que nada conheciam de Portugal. O casal "canadiano" veio mostrar o rectangulo português, plantado à beira-mar no canto mais ocidental da Europa, aos seus 2 filhos mais moços.
E nós, eu e minha esposa, fizemos a nossa parte de cicerones.....


José Rogério da Apresentação

Original escrito em: Ponta Delgada, 16.02.2006

Pinceladas Vivas - 7

Namorados fomos, namorados somos

Com o aproximar do 14 de Fevereiro, as cores vermelhas do São Valentim começam a inundar as lojas comerciais, os Hiper e os Centros Comerciais. Misturados com os tons audazes da época carnavalesca, os bailes (das debutantes, das máscaras, dos clubes e Filarmónicas, as danças e os bailinhos da Terceira, e os do Coliseu Micaelense), as fantasias e as fitas de cores diferenciadas, os assaltos e as batalhas das limas, os sacos de farinha e de água, os fraques e os vestidos vaporosos, os corsos e as malassadas, nesta quadra aparece também o tempo dos namorados, os corações e as rosas vermelhas com amor, os “bouquets” e as prendas com desejos de paixão eterna.

Coincidente ou não, o São Valentim, santo e padroeiro dos namorados que foram e que são, anda todos os anos misturado com o tempo dos foliões. O negócio do São Valentim e do Carnaval, todos os anos prospera mais. Apesar da crise.

Não há ninguém que não faça festa, a não ser os tristes, os deserdados, aqueles que choram as suas desditas ou os seus entes queridos que partiram. Os outros, todos os outros, desdobram-se num afã de comprar os bilhetes para os bailes, de adquirir as roupas condignas, de conviver uns com os outros nos jantares de amigos e de amigas, de compadres e de comadres, sempre suculentos e bem regados.

O Santo dos eternos namorados traz consigo no meio desta profusão de cores em tons de vermelho vivo, também poemas lindíssimos com promessas de paixão vibrante. Navega-se na Internet, fazendo “downloads” com os motivos mais diversificados, compondo cartões magníficos para oferecer ao namorado ou à namorada.

Em cada canto das ruas da minha cidade, há bancas de flores alusivas a este dia. E não há “bicho careta”, tenha lá a idade que tiver, que não compre um ramo, mais ou menos trabalhado e perfumado, para oferecer à sua “cara metade”.

Tempo de crise, de desemprego, de falta de dinheiro, qual quê? O tempo de aforrar há-de vir depois, quando passar o Carnaval. Ou não é verdade, que esta vida são 2 dias e o Carnaval são 3? Ah, está bem, já me esquecia, depois da Quaresma, que são 4o dias, e depois que a Páscoa é passada, vêm as férias e o tempo de praia. Depois, depois disso, é que havemos de começar a poupar qualquer coisita, para acautelar a invernia.

Mas São Valentim é São Valentim, Carnaval é Carnaval, e isto de namorados não é só para a malta jovem. Isso também é para a rapaziada mais entradota na idade, porque namorados somos todos, o amor renova-se em cada dia que passa. Os namorados que fomos naquela época de adolescentes com a cabeça cheia de sonhos e de projectos cor-de-rosa, são os namorados que continuamos a ser hoje, em cada dia.

Um beijinho, pois, doce e ternurento, à minha bem amada.


José Rogério da Apresentação
Original escrito em: Ponta Delgada, 10.02.2006
Actualizado em: 16.02.2006

Pinceladas Vivas - 6

Os “cartoons” da ira


As tristemente célebres caricaturas do Profeta Maomé, publicadas por um jornal dinamarquês, a que outros periódicos europeus se seguiram, dando também voz nas suas páginas, merecem-me umas breves reflexões, sem, contudo, ter qualquer vontade em me alongar muito sobre este assunto.

O tema, por si só, não merece a muita tinta que tem feito correr. Tudo radicou, afinal, em radicalismos extremados: - uns, em nome da propalada liberdade de expressão e de opinião, entenderam que não fazia sentido nenhum que a religião islâmica proibisse a publicação de fotos ou imagens alusivas ao Profeta Maomé e ao Corão, e então toma: vai de publicar bonecos, do tipo banda desenhada, das grandes figuras e dogmas muçulmanos. Do outro lado, o mundo muçulmano, constituído por muitos milhões de seres humanos, crentes e convictos, mais ou menos radicais e fundamentalistas, não achou graça nenhuma. Acirraram-se os ânimos e o ódio e, vai daí, foi um ápice para que a violência e ira saíssem à rua, tomando conta duma vasta panóplia de países, através de manifestações gigantescas e de ataques, incêndios e destruição incontrolados de embaixadas e consulados dinamarqueses e outros europeus.

Num recente inquérito, divulgado pela Agência Lusa, feito a 1003 dinamarqueses, com mais de 18 anos, 65% dos inquiridos receiam represálias terroristas e 31% não acreditam nesta possibilidade. Também 56% compreendem que os muçulmanos se sintam ofendidos com a publicação dos desenhos, mas 41% não compreendem esta onda de indignação.

A propósito da publicação desses e de mais alguns “cartoons” pelo semanário francês Charlie Hebdo e o diário France Soire, o reitor da Grande Mesquita de Paris, Dalil Boubakeur, admitiu recorrer às instâncias judiciais europeias se os tribunais franceses não condenarem os jornais que publicaram as polémicas caricaturas do Profeta Maomé. Afirma-se, ainda, apologista duma jurisprudência que assegure a impossibilidade de “insultar as religiões”.

Algumas interrogações me passam neste momento pela cabeça, perante este estado de coisas que tomou conta deste nosso pobre mundo, cheio de vulcões de ódio, os quais por qualquer coisa irrompem em lavas de ira que escorrem por este planeta inundando e atropelando tudo e todos. Que Planeta Terra é este onde vivemos, agitado por ondas gigantescas de extremismos radicais, de intolerância, de sectarismo, de insensatez e onde parece não haver lugar para o diálogo, a compreensão e o perdão? A ira invade embaixadas e consulados, destrói e incendeia bandeiras e património, derrama sangue e causa mortes e feridos. As autoridades cruzam os braços e parecem insensíveis perante estas hordas de vândalos que tudo destroem, em nome dos dogmas e dos valores sagrados da sua fé. Que mundo é este que temos? Que herança estamos a construir para as gerações vindouras? Quem disse também a quem que as democracias se constroem e se consolidam tendo como pano de fundo e paradigma a liberdade de expressão e de opinião, mesmo se ela insulta e fere os sagrados valores dos outros? Vivemos, assim, lado a lado, e de braço dado, com o extremar radicalizado de posições, onde o diálogo e o respeito mútuo pelos valores e crenças dos outros são espezinhados e deitados na lama.

Estes ódios, adormecidos ou latentes, são também, como me parece ser este o caso, aproveitados pelos mentores e fazedores do terrorismo internacional que escolhe a bandeira do Islão para atacar de forma violenta e destruidora os interesses ocidentais, seja o inimigo americano, seja, como agora, o inimigo europeu….



José Rogério da Apresentação
Ponta Delgada
Original escrito em: 13.02.2006
Actualizado em: 16.02.2006

Tuesday, February 14, 2006

Pinceladas Vivas - 5

Passeios maravilhosos

Este Brasil, de belezas mil e de milhões de contrastes, é onde eu vou e não me canso de ir. Onde descanso e carrego furiosamente as baterias, e sempre em férias curtas. Habituado a viajar, já conhecedor de várias paragens e recantos deste nosso mundo, não tenho conseguido, todavia, encontrar sítio que me encante tanto e me alegre a alma como o Brasil e a maravilhosa área do Rio de Janeiro.

Tal como referi no artigo anterior, vou dar-vos conta hoje, caros leitores, dos maravilhosos passeios que dei, aquando desta minha última visita ao Rio de Janeiro, em Novembro de 2002:

· Às “Ilhas Tropicais”- passeio, ida e volta, com veículo de ar condicionado, desde o hotel até ao saveiro que nos conduziu às centenas de ilhas maravilhosas e inesquecíveis de Itacuruçá, ao Jardim, à praia de Águas Lindas, praia Grande, com paradas em várias ilhas para tomar banho de mar, com frutas tropicais – melancia, abacaxi, coco, …-, camarões fritos e bebidas fresquinhas a bordo, almoço incluído, em sistema de buffet, em uma destas ilhas;
o Preço ( com tudo incluído): R$ 50,00 (preços de Novembro/2002)


· A Búzios - passeio, ida e volta, desde o hotel, em veículo de ar condicionado, correndo a cidade do Rio de Janeiro, atravessando a ponte do Niterói e parando em Búzios, com embarque em saveiro por várias ilhas, com paradas para banhos de mar, frutas tropicais, camarões fritos e bebidas fresquinhas a bordo: Almoço incluído.
o Preço ( com tudo incluído): R$ 50,00 (preços de Novembro/2002)

· À Ilha Grande/Angra dos Reis – passeio, ida e volta, desde o Hotel, em veículo de ar condicionado, até Angra dos Reis, a muitos quilómetros do Rio em direcção a São Paulo, na estrada de Santos. Aqui dá-se o embarque em saveiro, correndo diversas ilhas, com paradas para tomar banho na maravilhosa Costa Verde, de águas límpidas e azuis de coral, e ilhas de palmeiras e coqueiros, de areia branca e fina como açúcar, com “resorts” para comer e beber manjares de sabores frescos, mergulhos na ilha Cataguazes, na Lagoa Azul e Praia Japariz, na Ilha Grande. Inclui, além do passeio de saveiro, rodada de frutas e almoço, tipo self-service.
o Preço ( com tudo incluído): R$ 75,00 (preços de Novembro/2002)

· Ao Show Plataforma com jantar – Onde, além do maravilhoso passeio, em veículo de ar condicionado, pelo “Rio by Night”, desde o hotel, ida e volta, inclui o jantar, tipo rodízio de carnes numa churrasqueira do Leblon, e o “show plataforma”, um espectáculo memorável de samba, com lugares privilegiados e bem situados.
o Preço ( com tudo incluído): R$ 95,00 (preços de Novembro/2002)

Em próxima oportunidade, numa outra viagem ao Rio, ficam por dar os passeios a Petrópolis e Teresópolis, à Ilha dos Pescadores e a uma Escola de Samba.

Hotel, meu doce lar

À chegada ao Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, sem reservas de hotel e sem nada, que é assim que viaja quem vai em regime de facilidades, próprio de quem é das operadoras aéreas, dei comigo à procura de hotel e de táxi. O Hotel Biarritz, ali em plena Aires Saldanha, ao nº 54, é geralmente sempre o meu doce lar, aquele que vos descrevi no meu 1º artigo desta série. Para meu desencanto, estava cheio, só com possibilidades de me alojar na 3ª Feira seguinte. Eu havia chegado no sábado e, contrariado, lá tive de seguir para o Benidorm Palace Hotel, mais luxuoso, com suite e tudo, e situado em zona mais afastada da Atlântica, mais pròpriamente na Barata Ribeiro, a quatro paralelas do imenso areal que dá pelo nome de Praias de Copacabana. Não desgostei, apesar do preço, sempre são 150 reais/dia contra 75 reais/dia no Biarritz.


Com excepção da minha primeira viagem, em que fiquei hospedado nos Apartamentos Temporada (Apartamentos Mobilados com Kitchenette, AR, TV a cores e geladeira), mesmo em frente à praia de Copacabana, poucos metros à frente do Biarritz, sempre tenho ficado neste hotel, que considero, por isso, o meu doce lar em terras cariocas. Na 3ª Feira seguinte demandei com armas e bagagens do Benidorm para o Biarritz.


O regime dos passeios no Rio está feito para que o veraneante não tenha de se apoquentar com nada, porque sair do hotel com sacos, máquina fotográfica e os equipamentos próprios de quem vai a passear, não só é perigoso como não é aconselhável. O veículo que nos leva passa pelos vários hotéis, às horas indicadas, para levar os turistas e depois trá-los de volta, exactamente da mesma forma. Considero uma forma fácil, segura e bastante agradável.


Habitualmente, nas minhas rápidas saltadas ao Rio de Janeiro (geralmente, é uma semana), procuro entremear os passeios, com dias totalmente dedicados aos banhos em Copacabana e uma visita, com utilização de metro ou de ônibus, até ao Centro, à Rio Branco do Sul, aproveitando para fazer uma viagem de barco na Baía de Guanabara, junto à pista do Aeroporto de Santos Drumond, até ao outro lado, em Niterói, onde geralmente almoço. Tudo sempre nas calmas, sem “stress” e sem preocupações de nenhuma natureza.

Como tenho familiares morando na rica zona da Urca, nas faldas do Morro do Pão de Açúcar, geralmente aproveito o domingo para almoçar com eles e estar lá um bocado a conversar. Esta zona da Urca é muito bonita, é servida duma bela praia, tem uma fortaleza construída pelos portugueses navegadores do Infante D Henrique, e foi palco há anos duma importante telenovela que passou na televisão, cujo nome não me recordo, que reproduzia os tempos cariocas do princípio do século e que mostrava os prisioneiros nas células dessa fortaleza. É por lá que o conhecido cantor Roberto Carlos mora numa rica e luxuosa mansão.

Também numa destas minhas estadas no Rio, tive ensejo de ir passar um serão à Escola de Samba do Salgueiro, numa altura em que estavam a fazer os ensaios e a preparar a Escola para os desfiles do Carnaval no Sambódromo do Rio. Foi um espectáculo inesquecível!....


Tive, ainda, o privilégio de nessa mesma estadia ir almoçar com os meus parentes à Casa dos Açores do Rio, almoço que foi acompanhado dum espectáculo musical e onde estavam para cima de 200 comensais.


José Rogério da Apresentação
Original escrito em: Ponta Delgada, 01.11.2003

Actualizado em: 16.02.2006

Pinceladas Vivas - 4

Contrastes e contradições

Os meus 2 artigos anteriores pretendem ser uma viagem fresca e agradável ao interior mais profundo da alma do povo brasileiro. Por isso mesmo, encerram contrastes profundos. E contradições gritantes.

Nação imensa, prenhe de riquezas sem fim, país cortado, de norte a sul e de leste a oeste, por maravilhas naturais de porte espectacular, semeado de cachoeiras altas e profundas, rios gigantescos de percursos sinuosos que serpenteiam por entre matas densas, quilómetros contínuos de areais de águas azuis e cristalinas, florestas e matas escuras alimentando uma miríade de animais selvagens e insectos, centenas e centenas de pequenas ilhas espraiando-se sobre um mar azul de corais, país de saveiros, de amantes ao luar nos cais, de cachaça e feijão preto, de Iemanjá e das mães de santo e dos candomblés, de povo simples de muitas facetas e costumes, do Carnaval e das escolas de samba, da alegria franca de espuma natural, mas também um país rico de contrastes sociais, de violência e miséria e de baixa cultura.

Nos extractos populacionais, é usual encontrar, em contraponto a um núcleo pequeno de pessoas muito ricas (senhores de ilhas, coronéis do cacau, donos das grandes casas de crédito e cadeias de televisão, governantes, deputados e outros políticos corruptos, artistas, jogadores e automobilistas bem sucedidos, proprietários de grandes mansões e palacetes, ….) uma imensa prole, de muitos milhões de seres humanos, perfeitamente à deriva, sem casa nem beira, moradores das favelas e dos bairros pobres, com cheiro de peixe misturado de suor e catinga, de baixos salários ou não ganhando nada, pisando pé nas calçadas das longas avenidas ou torrando ao sol nas mil e uma belas praias, dorsos nus de calções rotos sobre pés descalços ou de chinelas pobres, comendo ao abrigo das esmolas sociais ou sobrevivendo à custa dos roubos, da violência e da prostituição.

É destas coisas todas e de muitas outras que Jorge Amado escreve no seu “Teresa Batista”, nos “Pastores da Noite”, na ”Tenda dos Milagres”, nos “Capitães da Areia”, no “A Morte e a Morte de Quincas Berro d´Água”, no “Mar Morto”, na “Gabriela, Cravo e Canela”, na “Tieta do Agreste”, na “Dª Flor e seus 2 maridos”, no “São Jorge dos Ilhéus”, “No Sumiço da Santa”, no “Farda, Fardão, Camisola de Dormir” e em toda a sua restante imensa bibliografia. A sua pena viva de grande bardo regista, como poucos, estes contrastes profundos e estas gritantes contradições, viajando como ninguém ao interior dos profundos sentimentos, práticas e costumes das gentes simples do Brasil.

Revisita à “Tocaia Grande”

Profundo apaixonado da obra de Jorge Amado, desde rapaz com meus dez anitos, penso que terá sido daí que o meu cordão umbilical ficou ligado ao Brasil. A primeira visita ao Rio de Janeiro, há vários anos atrás, fortaleceu ainda mais essa minha atracção e enlevo.

Houve, no entanto, de entre a vasta colecção de livros deste autor, um que me tocou com grande intensidade, que me ajudou a sentir com grande clareza os traços íntimos da populaça simples e generosa que pisa as terras de Vera Cruz, desde o interior do sertão, do mato grosso, da mata baiana ou da bacia amazónica, às terras altas e até aos confins do litoral deste grande território latino e sul-americano, encostado e fazendo fronteira com quase todos os grandes países da América Latina, como Paraguai, Uruguai, Venezuela, Argentina, Colômbia, Bolívia e Peru. Refiro-me ao “Tocaia Grande”. Ao vê-lo nos escaparates duma livraria, numa movimentada rua de Lisboa, não resisti à tentação: - comprei-o e reli-o, dum só fôlego, revivendo com ele em revisitas ao meu imaginário de frescos brasileiros, situado na minha memória dos anos 80.

“Tocaia Grande, a Face Obscura”, é, quanto a mim, uma das obras mais conseguidas deste grande escritor do nosso tempo. Depois de “Gabriela”, terá sido o que mais conseguiu impregnar, na alma e no sentir dos leitores, o viver das gentes simples e generosas. Conta a história, desde o momento da fundação de Tocaia Grande, hoje um burgo, algures no interior da mata baiana, elevado a cidade, conhecido por Irisópolis, na qual imperou o dinamismo de personagens, como os Andrade (pai e filho), o coronel Prudêncio de Aguiar, o Dr Inácio Pereira e a imensa saga do Capitão Natário da Fonseca, a principal personagem deste livro.

Este povoado constituiu-se inicialmente como um lugarejo, “numa época em que a honra precedia a lei e a coragem vinha antes do poder”, sendo, para o Capitão Natário, um paraíso e para outros, “um valhacouto, reino da Luxúria, danação de Satanás”. Nas 452 páginas da sua 3ª Edição, assistimos ao relato apaixonante da formação deste lugar, no início do século 20, quando os “frutos dourados dos cacaueiros” começavam a fazer história no interior do sertão brasileiro.
“Antes de existir qualquer casa, cavou-se o cemitério ao sopé da colina, na margem esquerda do rio. (…) Apesar do temporal (…), alguns urubus (…) sobrevoaram os homens (…) no transporte dos corpos e na abertura das covas. – Depressa, antes que a fedentina aumente!.” É assim que toda a história começa, desenvolvendo o autor “um vasto mural de caboclas, jagunços, coronéis e capitães”, para “descobrir e revelar a face obscura (…) daquela que foi varrida dos compêndios da história por infame e degradante.” O escritor, no livro, diz ainda que “ quero descer ao renegado começo, sentir a consistência do barro amassado com lama e sangue, capaz de enfrentar e superar a violência, a ambição, a mesquinhez, as leis do homem civilizado”.
“ De mato cerrado a cemitério de emboscada, de pouso de tropeiros e arruado de prostitutas, de terra de perdição e casa de Satã a povoado de bons modos”, a imensa história contada por Jorge Amado sobre Tocaia Grande, esse povoado que hoje é cidade de Irisópolis, constitui um livro inolvidável que recomendo a todos os leitores, interessados em conhecer a história sociológica e a etnologia do Brasil.

Passeios maravilhosos

Ainda sobre a história desta minha última visita a terras do Rio de Janeiro, naquele Novembro de 2002, vos contarei, no próximo artigo, a fechar este ciclo sobre o Brasil, de como foram os passeios maravilhosos (bem baratos e apetitosos ….) que dei.

José Rogério da Apresentação
Original escrito em: Ponta Delgada, 30.10.2003
Actualizado em: 14.02.2006

Pinceladas Vivas - 3

Rodízio carioca ou talvez não

Não foi o “Mauá”, que esse só o adquiri ao 2º dia da minha estadia no Rio, pelas mãos do meu querido amigo Paulo Raimundo, ele próprio um jornalista, um “designer” culto das coisas maravilhosas, simples e complexas, do seu Brasil. Nascido no Paraná, há quase 50 anos, singrou, passando por lides em aeroportos e tratando por tu as coisas dos aviões, para as terras cariocas, fixando-se na Glória, em um quarto andar dum prédio já não muito moderno de fronte para um dos principais hospitais particulares do Rio de Janeiro. Nesta cidade imensa, ruidosa e cheia de contrastes gritantes, conheceu, nas suas muitas caminhadas desde a Praia do Flamengo até à Urca, ali aninhada ao pé do Morro do Pão do Açúcar, a Ana, professora e depois assistente social em várias importantes favelas. Nascida de pais portugueses, o pai de Braga e a mãe de S. Miguel, há muito emigrados nestas terras de Vera Cruz, esta descendente da Família Vaz casou com o Paulo, o tal Raimundo, jornalista “designer” preocupado com as coisas incríveis do seu Brasil amado, lindo de morrer, mas ao mesmo tempo cheio de desejos de emigrar, algures para Portugal, para o Canadá, sei lá, para qualquer lado, onde a vida faça mais sentido e a esperança encha mais os bolsos, criando um futuro risonho para o bebé, seu rebento que viu a luz do dia nos primeiros de Maio deste ano.

Inconformado com a vida, o bom do Raimundo identifica-se bastante com Mauá, o tal Empresário do Império, um homem de negócios que começou do nada, como simples moço de recados e depois caixeiro numa firma comercial, ali para as bandas da Rua do Ouvidor, descendente ainda de pais açorianos, nascido e criado nas terras do Rio Grande do Sul, e que a pulso, com organização e método, força de vontade imensa e uma inteligência esclarecida, conseguiu ser o principal Empresário do Brasil, dono de múltiplas empresas, companhias ferroviárias e de transporte marítimo e terrestre, de iluminação, estaleiros navais e fundições, banqueiro por excelência. Pela pena de Jorge Caldeira, a vida de Irineu Evangelista de Sousa, barão e visconde de Mauá, é descrita de forma exemplar ao longo das 557 páginas do seu livro “Mauá, Empresário do Império”. Figura incompreendida na sua época, sujeito a um rodopio de invejas e cobiças dos parceiros do seu tempo, banqueiros, empresários agrícolas esclavagistas, políticos, chefes de governo, ministros e parlamentares, Mauá chegou a deter uma imensa fortuna, que se constituiu como uma boa parte da riqueza brasileira, uruguaia e argentina, com acções nos principais bancos ingleses e casas de crédito europeias. Apoiado pelo seu grande amigo, o usurário escocês Richard Carruthers, Irineu aprendeu depressa e bem todas as práticas contabilísticas mais avançadas da sua época, ao tempo do Rei D. João VI, fugido de Portugal com a sua corte, por via das invasões napoleónicas, e dos Imperadores Pedro I e II do Brasil (e também Reis Pedro IV e V de Portugal). A estação televisiva “Canal do Brasil” passou recentemente esta obra em filme.

Calcorreando, acima e abaixo, as longas artérias do Centro do Rio, desde a Rio Branco até à Glória, Morro de Santa Teresa e, atravessando de barco o rio, do outro lado Niterói, eu e o Paulo corremos muitos dos trilhos pisados, séculos atrás, pelo Barão Irineu, e deu-me a conhecer tintim por tintim, muitos dos sítios onde ele viveu. Hei-de lá voltar para conhecer também Petróplis e Teresópolis.

A faceta incompreendida do Barão de Mauá é ainda hoje imagem de marca indelével do Brasil actual, que apaga e cilindra os grandes homens, país de profundos contrastes e contradições, que possui riquezas incalculáveis mas que é, em simultâneo, uma nação cuja maioria é pobre, muitos no limiar da miséria, a par de uns tantos, muito poucos, extremamente ricos. País que é devorado por um mar imenso de desigualdades e injustiças sociais, pulverizado por uma violência sem limites. Porquê?, porque se calhar os valores passam uns atrás dos outros e não são aproveitados.

Neste rodízio carioca, ou talvez não, que permitiu que eu lesse a outra luz esta saga do Barão de Mauá, entrei também num alfarrabista, quando andava à procura dumas estatuetas religiosas, nas lojas de Imagens e Artes Sacras das ruas apinhadíssimas de gente, em pleno Centro do Rio de Janeiro, essa cidade que era há poucos séculos atrás cortada por vários morros, que forram arrasados e que hoje são pontões roubados ao mar na zona do Flamengo e Botafogo. Conversa puxa conversa com o dono da livraria, um poeta cujo nome já não me lembro, ele ofereceu-me um livro velho, amarelo e comido pelo tempo: “Contos Cariocas”. Da autoria dum tal Arthur Azevedo, exímio contador de contos e historietas, ainda escrito em português-brasileiro do século passado, constitui uma delícia lê-lo, retratando com pinceladas vivas a alma simples do “povão” carioca, alegre desenrascado.

Périplo ao interior da alma brasileira

Naquelas longas dez horas e tal de voo que me conduziram de Lisboa até ao Rio de Janeiro, olhando, horas a fio, a majestade e beleza sem fim do imenso Brasil, através da janela do Airbus da TAP, entre um excelente serviço a bordo e uma simpatia inexcedível das raparigas e rapazes de cabine, fui lendo, devorando, não o “Mauá”, mas a “Teresa Batista cansada de guerra”, do inesquecível e sempre presente Jorge Amado. As 475 páginas da sua 8ª Edição, cuja leitura já concluí na noite da chegada ao Rio, após saltar do Galeão numa corrida frenética até Copacabana, e já hospedado no “Benidorm Palace Hotel” de 4 Estrelas, constituem-se como um mergulho profundo ao interior da alma do povo brasileiro.
Esta Teresa Batista, “moça de cobre, nos seus afazeres e correrias”, é uma das muitas figuras populares criadas pela pena desse grande escritor, num friso de heróis do povo, concebidos no interior do sertão, ao luar nos veleiros ou nos bares de cachaça dos cais desse “território habitado por uma nação de caboclos e pardos, cafuzos, gente de pouca pabulagem e de muito agir…”.
Era o último livro de Jorge Amado que me faltava ler. Sou um apaixonado pelos romances deste escritor, que são também valiosas colectâneas de vocábulos genuínos brasileiros que repousam no íntimo da cultura índia nativa cruzada com as linguagens ou linguísticas dos povos colonizadores que demandaram as terras do Brasil. Este livro, recomendo eu, caros leitores, que o leiam, tal como a restante panóplia de livros deste importante autor do nosso tempo.

José Rogério da Apresentação
Original escrito em: Ponta Delgada, 22.09.2003
Actualizado em: 14.02.2006

Pinceladas Vivas - 2


“Mauá”, “Contos Cariocas”, “Teresa Batista” e um período breve e inesquecível no Brasil

Nos primeiros dias de Novembro passado, numa luta contra o cansaço, dei pela 3ª vez um giro até às terras cariocas do Brasil. Rio de Janeiro, de belezas mil, é o meu refúgio predilecto, sempre que procuro carregar baterias que estão prestes a esvaziar. Das outras vezes, tinha dado sossego ao corpo, mergulhando nas águas temperadas e batidas das maravilhosas praias de Copacabana. É por ali, duas artérias atrás da Avenida Atlântica, que procuro habitualmente o meu pouso. Um hotel económico, familiar, muito aconchegado, repousante, a umas centenas de metros do mar, rodeado por quiosques, lanchonetes, pequenos restaurantes, bares e cervejarias, onde se pode comer “comida rápida ou a peso”, ou levar umas “kentinhas”, embrulhadas em papel de alumínio, para comer no quarto. O barulho e o pulsar de Copacabana ficam mais atrás, na Barata Ribeiro ou na Senhora de Copacabana, ou adiante na Atlântica, frenética de hotéis, colados uns aos outros, a observar o mar azul e o extenso areal que o circunda e acaricia. Uma multidão imensa corre estas enormes avenidas, calcorreando largas calçadas ou serpenteando as vias saturadas de tráfego, em trajes leves de verão, sandálias ou chinelas nos pés, ou de fatos de banho ligeiros, troncos nus com toalha de praia às costas. De dia, após um pequeno-almoço, recheado de deliciosas iguarias sobre uma enorme mesa, tipo “self-service”, cá o rapaz singra a caminho da praia que fica mesmo ali à frente, duas ruelas pequenas andadas, e pronto, já está. Cruzo a Avenida Atlântica, atravesso a estrada, com cuidado (!) para não ser atropelado, e piso a areia quente da vastidão de areal, dividido em múltiplas praias contínuas, de vários nomes, mas que afinal é só uma. Da estrada até ao mar, em largura, corro várias dezenas de metros, sempre por entre uma multidão de veraneantes, estendidos sobre uma areia, branca e suave como o açúcar, e debaixo dum sol abrasador que torra e pinta os corpos com as cores do cobre e o cheiro penetrante e saudável da maresia. Há sempre um lugar bom, longe ou perto do morrer das ondas, onde se pode pôr a toalha e as parcas coisas que se leva. – “Oh, vizinho!, pode guardar aqui as minhas coisas, enquanto vou ali dar um mergulhito”. Não vá o diabo tecê-las, que ao regressar só lá está o lugar: a toalha e o resto “voou”. Apesar disso, e por isso, tudo isto tem um encanto. Mergulhado nas águas abençoadas, corpo refrescado e alma purificada, é a hora de beber uma água de coco fresquinha ou um “chopinho” gelado, acompanhado duns camarões fritos enfiados, tipo espetada madeirense, num pau, que não é de louro, aí duns 20 centímetros. Pelas 3-4 horas da tarde, regresso ao hotel para um chuveiro delicioso, caio sobre a cama e repouso um bocado até por volta das sete, hora mais ou menos em que meto pé na rua, vestindo trajes leves e frescos, e vou à procura do jantar para depois dar uma volta à noite, por entre as ruas concorridas da Copacabana carioca, apreciando os mil e um vendedores de bugigangas sem fim que enchem à noite a Avenida Atlântica, junto ao areal, ou estacionando nalguma das muitas esplanadas, sob uma temperatura nocturna quente, sorvendo líquido fresquinho.

Por essas vezes, nestas idas ao Rio, entrecortado pelos dias só de praia, em Copacabana, descia até ao coração do Rio de Janeiro, à Rio Branco, ao Botafogo, à praia do Flamengo, à Glória, ao outro lado da ponte do Niterói, à Churrasqueira do Leblon, a Ipanema, à Tijuca, ao show do Plataforma, ao Pão de Açúcar, ao Cristo do Corcovado, à visita dos familiares na Urca, à Escola de Samba do Salgueiro ou ao bar do Chico´s, mas não me aventurava mais… porque isso me dava sossego, calma, bem-estar e energia para mais uma temporada de trabalho quando regressasse a Portugal. E sentia-me feliz, maravilhosamente bem…

Só que, desta vez, nesse Novembro inesquecível, na longa viagem de 10 horas, desde Lisboa até ao Rio de Janeiro, “peguei de estaca” e devorei de enfiada 2 maravilhosos livros que traduzem, quanto a mim, o fundo da alma brasileira e o timbre alegre, irradiante e bem disposto do ser carioca, habitante dessa imensa metrópole, de vários milhões de habitantes, que é o Rio de Janeiro: “Mauá, Empresário do Império” (de Jorge Caldeira, 557 páginas) e “Contos Cariocas” (um livro póstumo do Arthur Azevedo, 263 páginas). Depois, no período que se seguiu, durante a minha estada duma semana, bebi devorando as 475 páginas do livro do Jorge Amado que me faltava ler: “Teresa Batista Cansada de Guerra” (uma obra imponente, como todas as outras dele, em que o autor pinta a letras grossas e plenas de vida os recônditos mais íntimos da alma popular do interior do Brasil, esse país enorme, em extensão e contrastes, que pula de vida).

Destes 3 livros e do que foi essa semana quente de Novembro último, darei conta, caro leitor, em próximo artigo, que, prometo, não vai demorar muito tempo a aparecer. Acredito que vai valer a pena lê-lo, pelo pitoresco e castiço do que encerra.

José Rogério da Apresentação
Original escrito em: Ponta Delgada, 22.09.2003
Actualizado em: 14.02.2006

Pinceladas Vivas - 1

A matança dos inocentes

É de ontem, e vai rebuscar ao fundo dos tempos. Sensibiliza todos e causa sempre horror. Desde os tempos bíblicos, o Rei Herodes mata (diz a Bíblia que “manda matar”) crianças inocentes, os primogénitos, para aniquilar o Menino Deus, que há pouco tempo havia nascido. Hoje: autocarros, metros, comboios, aviões, cafés, aeroportos, centros comerciais, aviões suicidas contra alvos, embaixadas, e sei lá o que mais, tudo serve para valer argumentos. A matança dos inocentes, feita de forma indiscriminada e sem regras, é um contra-poder e uma arma poderosa nas mãos de gente que semeia o terror, em nome de objectivos que causam montes de interrogações e cordilheiras íngremes de consternação e perplexidade.


A informação e a contra-informação encontram justificações, dum lado e do outro, em nome de cada bandeira, procurando justificar o injustificável.
Nada justifica a violência, num mundo em que a barbárie e a lei da selva vêm assumindo contornos dramáticos e preocupantes. O apelo à “Jihad” Islâmica, por banda dos árabes, ou à guerra contra o terrorismo, pelo lado do mundo ocidental, são formas violentas de resolver a violência pela violência. A retaliação ou a pena de Talião estão sempre presentes....
Entretanto, em nome dos fins que não justificam os meios, milhares de inocentes – que, se calhar, na sua grande maioria, nada têm a ver com o assunto – vão tombando nas “Twin Towers”, no Afeganistão, em Israel e nos territórios árabes ocupados, nos aviões desviados, nos sequestros de reféns, nas explosões em metros e comboios e nas superfícies comerciais.
A onda de violência recrudesce por toda a parte. O sentimento generalizado de insegurança instala-se no subconsciente das populações. Ondas de medo, de intensidade ainda não mensurável, que se misturam com outras de vingança, são lançadas contra alvos quase sempre sem rosto e esbatidos.
O terrorismo está hoje bem vivo nas consciências dos cidadãos pelos 4 cantos do mundo. Surge, perante os olhos, como um enorme vulcão que está a acordar, um polvo de milhares de ramificações e de organizações, com diversos Bin Laden como estrategas. A guerra biológica, feita através da disseminação do pó branco, de nome Antrax ou Antraz, ou da propagação massiva do vírus da varíola, já começou. Sem que se saiba, ao certo, qual a força do terror, do medo da instabilidade, da insegurança e do stress que vai espalhar entre milhões de vítimas sem culpa.
Uma nova vaga de matança de inocentes está irrompendo aí ….

Como escrevia o Padre Telmo ( in “O Gaiato”, de 20 Out 2001 ), “ (…) também causam arrepios tantos filmes que são escola de violência, sexo e totalmente desumanos. Seria bom que estas tragédias, tantos crimes e roubos fizessem reflectir os respectivos responsáveis (…)”.
E, acrescento eu, que os “media” ponderassem as informações que difundem, muitas das quais são pasto fértil para semear a violência e a ira.

Quem semeia ventos, colhe quase sempre tempestades …..


José Rogério da Apresentação
Original: P Delgada, 16/10/2001
Actualizado em: 16/02/2006