Pinceladas Vivas - 6
Os “cartoons” da ira
As tristemente célebres caricaturas do Profeta Maomé, publicadas por um jornal dinamarquês, a que outros periódicos europeus se seguiram, dando também voz nas suas páginas, merecem-me umas breves reflexões, sem, contudo, ter qualquer vontade em me alongar muito sobre este assunto.
O tema, por si só, não merece a muita tinta que tem feito correr. Tudo radicou, afinal, em radicalismos extremados: - uns, em nome da propalada liberdade de expressão e de opinião, entenderam que não fazia sentido nenhum que a religião islâmica proibisse a publicação de fotos ou imagens alusivas ao Profeta Maomé e ao Corão, e então toma: vai de publicar bonecos, do tipo banda desenhada, das grandes figuras e dogmas muçulmanos. Do outro lado, o mundo muçulmano, constituído por muitos milhões de seres humanos, crentes e convictos, mais ou menos radicais e fundamentalistas, não achou graça nenhuma. Acirraram-se os ânimos e o ódio e, vai daí, foi um ápice para que a violência e ira saíssem à rua, tomando conta duma vasta panóplia de países, através de manifestações gigantescas e de ataques, incêndios e destruição incontrolados de embaixadas e consulados dinamarqueses e outros europeus.
Num recente inquérito, divulgado pela Agência Lusa, feito a 1003 dinamarqueses, com mais de 18 anos, 65% dos inquiridos receiam represálias terroristas e 31% não acreditam nesta possibilidade. Também 56% compreendem que os muçulmanos se sintam ofendidos com a publicação dos desenhos, mas 41% não compreendem esta onda de indignação.
A propósito da publicação desses e de mais alguns “cartoons” pelo semanário francês Charlie Hebdo e o diário France Soire, o reitor da Grande Mesquita de Paris, Dalil Boubakeur, admitiu recorrer às instâncias judiciais europeias se os tribunais franceses não condenarem os jornais que publicaram as polémicas caricaturas do Profeta Maomé. Afirma-se, ainda, apologista duma jurisprudência que assegure a impossibilidade de “insultar as religiões”.
Algumas interrogações me passam neste momento pela cabeça, perante este estado de coisas que tomou conta deste nosso pobre mundo, cheio de vulcões de ódio, os quais por qualquer coisa irrompem em lavas de ira que escorrem por este planeta inundando e atropelando tudo e todos. Que Planeta Terra é este onde vivemos, agitado por ondas gigantescas de extremismos radicais, de intolerância, de sectarismo, de insensatez e onde parece não haver lugar para o diálogo, a compreensão e o perdão? A ira invade embaixadas e consulados, destrói e incendeia bandeiras e património, derrama sangue e causa mortes e feridos. As autoridades cruzam os braços e parecem insensíveis perante estas hordas de vândalos que tudo destroem, em nome dos dogmas e dos valores sagrados da sua fé. Que mundo é este que temos? Que herança estamos a construir para as gerações vindouras? Quem disse também a quem que as democracias se constroem e se consolidam tendo como pano de fundo e paradigma a liberdade de expressão e de opinião, mesmo se ela insulta e fere os sagrados valores dos outros? Vivemos, assim, lado a lado, e de braço dado, com o extremar radicalizado de posições, onde o diálogo e o respeito mútuo pelos valores e crenças dos outros são espezinhados e deitados na lama.
Estes ódios, adormecidos ou latentes, são também, como me parece ser este o caso, aproveitados pelos mentores e fazedores do terrorismo internacional que escolhe a bandeira do Islão para atacar de forma violenta e destruidora os interesses ocidentais, seja o inimigo americano, seja, como agora, o inimigo europeu….
José Rogério da Apresentação

O tema, por si só, não merece a muita tinta que tem feito correr. Tudo radicou, afinal, em radicalismos extremados: - uns, em nome da propalada liberdade de expressão e de opinião, entenderam que não fazia sentido nenhum que a religião islâmica proibisse a publicação de fotos ou imagens alusivas ao Profeta Maomé e ao Corão, e então toma: vai de publicar bonecos, do tipo banda desenhada, das grandes figuras e dogmas muçulmanos. Do outro lado, o mundo muçulmano, constituído por muitos milhões de seres humanos, crentes e convictos, mais ou menos radicais e fundamentalistas, não achou graça nenhuma. Acirraram-se os ânimos e o ódio e, vai daí, foi um ápice para que a violência e ira saíssem à rua, tomando conta duma vasta panóplia de países, através de manifestações gigantescas e de ataques, incêndios e destruição incontrolados de embaixadas e consulados dinamarqueses e outros europeus.
Num recente inquérito, divulgado pela Agência Lusa, feito a 1003 dinamarqueses, com mais de 18 anos, 65% dos inquiridos receiam represálias terroristas e 31% não acreditam nesta possibilidade. Também 56% compreendem que os muçulmanos se sintam ofendidos com a publicação dos desenhos, mas 41% não compreendem esta onda de indignação.
A propósito da publicação desses e de mais alguns “cartoons” pelo semanário francês Charlie Hebdo e o diário France Soire, o reitor da Grande Mesquita de Paris, Dalil Boubakeur, admitiu recorrer às instâncias judiciais europeias se os tribunais franceses não condenarem os jornais que publicaram as polémicas caricaturas do Profeta Maomé. Afirma-se, ainda, apologista duma jurisprudência que assegure a impossibilidade de “insultar as religiões”.
Algumas interrogações me passam neste momento pela cabeça, perante este estado de coisas que tomou conta deste nosso pobre mundo, cheio de vulcões de ódio, os quais por qualquer coisa irrompem em lavas de ira que escorrem por este planeta inundando e atropelando tudo e todos. Que Planeta Terra é este onde vivemos, agitado por ondas gigantescas de extremismos radicais, de intolerância, de sectarismo, de insensatez e onde parece não haver lugar para o diálogo, a compreensão e o perdão? A ira invade embaixadas e consulados, destrói e incendeia bandeiras e património, derrama sangue e causa mortes e feridos. As autoridades cruzam os braços e parecem insensíveis perante estas hordas de vândalos que tudo destroem, em nome dos dogmas e dos valores sagrados da sua fé. Que mundo é este que temos? Que herança estamos a construir para as gerações vindouras? Quem disse também a quem que as democracias se constroem e se consolidam tendo como pano de fundo e paradigma a liberdade de expressão e de opinião, mesmo se ela insulta e fere os sagrados valores dos outros? Vivemos, assim, lado a lado, e de braço dado, com o extremar radicalizado de posições, onde o diálogo e o respeito mútuo pelos valores e crenças dos outros são espezinhados e deitados na lama.

José Rogério da Apresentação
Ponta Delgada
Original escrito em: 13.02.2006
Original escrito em: 13.02.2006
Actualizado em: 16.02.2006
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