Pinceladas Vivas - 10
Água bendita, quando se morre por ti
Este é o 1º de 3 artigos que desejo dedicar à água, esse bem precioso e vital para o nosso planeta. Vezes sem conta, tenho sido um arauto da defesa da água, um recurso que, também não raras vezes, as populações do mundo não se dão conta de quanto desprezam e de quanto o desperdiçam.
Não sou, por princípio, dos que embandeiram ou pertencem ao grupo dos ambientalistas, dos verdes, dos amigos da terra, das organizações mundiais interessantes que se batem pela pureza dos mares, da vida, dos climas, que lutam contra a poluição e o aquecimento do planeta, que gritam contra as caçadas desenfreadas sobre as espécies em extinção, que erguem as vozes denunciando a exploração sem freio das energias não renováveis e os consequentes desequilíbrios ecológicos que colocam em perigo a harmonia deste maravilhoso mundo em que vivemos.
Respeito as muitas vozes que bradam, cruzando oceanos e continentes, e que se erguem contra o aquecimento do globo, a desertificação e aridez de vastas áreas que outrora foram férteis, viçosas, cheias de água abundante e verdejantes, o desaparecimento de animais e plantas que embelezavam e davam vida e cor a imensas pradarias luxuriantes.
Reconheço a falta das matas, dos pomares, das flores garridas em campos férteis, das searas verdes atravessadas e pujantes de papoilas vermelhas, das árvores bordejando valas e canais onde a água corria, a cantar, por entre os pios dos passarinhos, o grasnar dos patos bravos sedentos, as árvores amigas carregadas, até mais não, de frutos viçosos e suculentos, os arrozais a perder de vista, e o cheiro – magnífico, purificador e amigo dos pulmões da malta de ontem, a tal populaça rural que não sabia nem conhecia o significado dos fumos das fábricas, do tráfego caótico, dos ruídos ensurdecedores, das cores plúmbeas e escuras dos céus, das luzes coadas e poluentes que fazem chorar os olhos e dos ventos doentios, acres e secos que secam, gretam e escavam os narizes da gente, narizes que nasceram para cheirar, mas que, de geração em geração, estão a perder o olfacto, porque os aromas, os perfumes da natureza estão a desaparecer.
Tenho saudades da água e de tudo quanto a rodeava, nos regatos, ribeiros e valas que alimentavam canteiros e quintas amorosamente trabalhados, nos rios, serenos e azuis, que passavam a cantar, regando docemente tudo em volta, das nascentes e açudes que abraçavam, em milagres de amor e doçura, as florestas e matas frondosas nas suas margens, da frescura perfumada que se libertava por toda a parte, do silêncio calmo e apaziguador, aqui e ali cortado pelos estridentes sons das aves canoras e de plumagens de cores e encantos mil.
Sinto hoje nostalgia e tristeza por querer atravessar rios, ribeiros, ribeiras e regatos, e não poder, porque neles não há água, há pântanos dessorados, pestilentos, cheios de dejectos e cheiros nauseabundos. A água, bendita e fonte de vida, está a ser desprezada e está a morrer!...
A nossa geração de hoje não é amiga da água, como também não direi que é sua inimiga. Uma onda incrível de indiferença e apatia se abateu sobre este planeta azul, onde 3/4 dele é água. Mas o homem, no afã do seu progresso [ à procura daquilo que considera o seu conforto e bem estar], está a dar cabo do planeta Terra, esta´ a aniquilar os mares, os oceanos, as espécies marinhas, os bancos de peixe começam a ficar exauridos, a poluição, provocada por lixos de toda a espécie [químicos, radiológicos, nucleares, resíduos sólidos, substâncias tóxicas, …] estão a aniquilar a flora e a fauna marinha e aquática, enquanto, simultaneamente, a vegetação, outrora luxuriante e verde, amarelece, estiola e desaparece. Pântanos monstruosos erguem-se altivos, cruzados por revoadas de mosquitos, insectos e répteis que transportam doenças, pestes e a morte.
A água que, durante milénios, foi o elemento abundante, único e amigo, que matava a sede dos homens, dos animais e das plantas, deixou de ser a companheira das longas jornadas em que, quando o cansaço e a secura se abatia sobre tudo quanto tinha vida e respirava, era a amiga que aconchegava e estava sempre em todas as horas.
Aos poucos, tem vindo a ser desprezada, abandonada, olhada com suspeição e a ser substituída por outros parentes que a era das tecnologias trouxe. Foi primeiro o vinho [Ah, doce vinho!, Ah, meu verdinho, meu verdinho, não há cor igual à tua!...], depois a cerveja [loura, espumosa e de múltiplos tragos e sabores], mais recentemente os refrigerantes [as cocas, as sprites, os espumantes, com corantes ou sem eles, gaseificados, doces ou menos doces] e as polpas e sumos de frutas. Todos eles que, no entanto, e mais uma vez, precisam de ter água dentro, para subsistirem e poderem ser consumidos. Que seria de cada um deles, sem a nossa [e outra vez] amiga água!...
Mas a água, bendita e amiga, hoje também deixou de ser amiga. Passou a ser uma inimiga mortal, assassina, causadora de milhões de mortes de seres inocentes e indefesos. Não apenas seres humanos famintos e depauperados, mulheres, crianças, idosos, adultos esquálidos e frágeis, em extensas zonas degradadas do globo, como também animais que podiam ser fonte de sustento e de apoio. Morrem também, sob o efeito dos venenos e dos poluentes, com origem em toda a sorte de fontes, incluindo cadáveres e dejectos nas nascentes e pântanos infestados de insectos portadores de doenças altamente mortíferas [malária, cólera, febre amarela, e outras].
Em vastas zonas do globo terrestre onde há míngua de tudo, também o elemento água [que devia correr alegre e sadio por entre as densas matas e selvas africanas, pelas estepes asiáticas ou pelas vastas savanas] é também “amigo”, “causa” e “companheiro” na morte de milhões e milhões de seres que fogem, calcorreando os muitos “corredores da morte” à procura do maná, da terra prometida, da salvação e de algo para comer … e para beber.
Eu não pertenço a nenhuma destas organizações, cuja bandeira é a defesa da vida no mundo, que erguem a sua voz e apoiam, com intervenções no terreno, os famintos, os refugiados, os injustiçados, as vítimas da guerra e dos massacres sem rosto, os explorados, os sem abrigo, os inválidos e estropiados causados pela venda iníqua de armas. Muito longe da casa onde eu vivo, mas também ao pé de mim.
Não pertenço, mas apoio, com a ajuda que posso dar, os homens e mulheres que lutam pelo bem da humanidade e pelo equilíbrio do planeta, muitos deles anónimos mas de coração a transbordar de amor pelo próximo e por esta terra que todos, mas todos, sem excepção, devíamos amar.
Como disse, ao princípio, vou voltar aqui, nestas linhas e no cantinho deste jornal, ao Planeta Azul e ao Tema da ÁGUA, esse elemento bendito e amigo, que não me cansarei de defender, em todos os momentos e de todas as formas e forças que tiver.
Por quem, amiga Água, tantos te procuram e tantos também morrem por ti…..
Ponta Delgada, 25 de Julho de 2006
José Rogério da Apresentação
Este é o 1º de 3 artigos que desejo dedicar à água, esse bem precioso e vital para o nosso planeta. Vezes sem conta, tenho sido um arauto da defesa da água, um recurso que, também não raras vezes, as populações do mundo não se dão conta de quanto desprezam e de quanto o desperdiçam.
Não sou, por princípio, dos que embandeiram ou pertencem ao grupo dos ambientalistas, dos verdes, dos amigos da terra, das organizações mundiais interessantes que se batem pela pureza dos mares, da vida, dos climas, que lutam contra a poluição e o aquecimento do planeta, que gritam contra as caçadas desenfreadas sobre as espécies em extinção, que erguem as vozes denunciando a exploração sem freio das energias não renováveis e os consequentes desequilíbrios ecológicos que colocam em perigo a harmonia deste maravilhoso mundo em que vivemos.
Respeito as muitas vozes que bradam, cruzando oceanos e continentes, e que se erguem contra o aquecimento do globo, a desertificação e aridez de vastas áreas que outrora foram férteis, viçosas, cheias de água abundante e verdejantes, o desaparecimento de animais e plantas que embelezavam e davam vida e cor a imensas pradarias luxuriantes.
Reconheço a falta das matas, dos pomares, das flores garridas em campos férteis, das searas verdes atravessadas e pujantes de papoilas vermelhas, das árvores bordejando valas e canais onde a água corria, a cantar, por entre os pios dos passarinhos, o grasnar dos patos bravos sedentos, as árvores amigas carregadas, até mais não, de frutos viçosos e suculentos, os arrozais a perder de vista, e o cheiro – magnífico, purificador e amigo dos pulmões da malta de ontem, a tal populaça rural que não sabia nem conhecia o significado dos fumos das fábricas, do tráfego caótico, dos ruídos ensurdecedores, das cores plúmbeas e escuras dos céus, das luzes coadas e poluentes que fazem chorar os olhos e dos ventos doentios, acres e secos que secam, gretam e escavam os narizes da gente, narizes que nasceram para cheirar, mas que, de geração em geração, estão a perder o olfacto, porque os aromas, os perfumes da natureza estão a desaparecer.
Tenho saudades da água e de tudo quanto a rodeava, nos regatos, ribeiros e valas que alimentavam canteiros e quintas amorosamente trabalhados, nos rios, serenos e azuis, que passavam a cantar, regando docemente tudo em volta, das nascentes e açudes que abraçavam, em milagres de amor e doçura, as florestas e matas frondosas nas suas margens, da frescura perfumada que se libertava por toda a parte, do silêncio calmo e apaziguador, aqui e ali cortado pelos estridentes sons das aves canoras e de plumagens de cores e encantos mil.
Sinto hoje nostalgia e tristeza por querer atravessar rios, ribeiros, ribeiras e regatos, e não poder, porque neles não há água, há pântanos dessorados, pestilentos, cheios de dejectos e cheiros nauseabundos. A água, bendita e fonte de vida, está a ser desprezada e está a morrer!...
A nossa geração de hoje não é amiga da água, como também não direi que é sua inimiga. Uma onda incrível de indiferença e apatia se abateu sobre este planeta azul, onde 3/4 dele é água. Mas o homem, no afã do seu progresso [ à procura daquilo que considera o seu conforto e bem estar], está a dar cabo do planeta Terra, esta´ a aniquilar os mares, os oceanos, as espécies marinhas, os bancos de peixe começam a ficar exauridos, a poluição, provocada por lixos de toda a espécie [químicos, radiológicos, nucleares, resíduos sólidos, substâncias tóxicas, …] estão a aniquilar a flora e a fauna marinha e aquática, enquanto, simultaneamente, a vegetação, outrora luxuriante e verde, amarelece, estiola e desaparece. Pântanos monstruosos erguem-se altivos, cruzados por revoadas de mosquitos, insectos e répteis que transportam doenças, pestes e a morte.
A água que, durante milénios, foi o elemento abundante, único e amigo, que matava a sede dos homens, dos animais e das plantas, deixou de ser a companheira das longas jornadas em que, quando o cansaço e a secura se abatia sobre tudo quanto tinha vida e respirava, era a amiga que aconchegava e estava sempre em todas as horas.
Aos poucos, tem vindo a ser desprezada, abandonada, olhada com suspeição e a ser substituída por outros parentes que a era das tecnologias trouxe. Foi primeiro o vinho [Ah, doce vinho!, Ah, meu verdinho, meu verdinho, não há cor igual à tua!...], depois a cerveja [loura, espumosa e de múltiplos tragos e sabores], mais recentemente os refrigerantes [as cocas, as sprites, os espumantes, com corantes ou sem eles, gaseificados, doces ou menos doces] e as polpas e sumos de frutas. Todos eles que, no entanto, e mais uma vez, precisam de ter água dentro, para subsistirem e poderem ser consumidos. Que seria de cada um deles, sem a nossa [e outra vez] amiga água!...
Mas a água, bendita e amiga, hoje também deixou de ser amiga. Passou a ser uma inimiga mortal, assassina, causadora de milhões de mortes de seres inocentes e indefesos. Não apenas seres humanos famintos e depauperados, mulheres, crianças, idosos, adultos esquálidos e frágeis, em extensas zonas degradadas do globo, como também animais que podiam ser fonte de sustento e de apoio. Morrem também, sob o efeito dos venenos e dos poluentes, com origem em toda a sorte de fontes, incluindo cadáveres e dejectos nas nascentes e pântanos infestados de insectos portadores de doenças altamente mortíferas [malária, cólera, febre amarela, e outras].
Em vastas zonas do globo terrestre onde há míngua de tudo, também o elemento água [que devia correr alegre e sadio por entre as densas matas e selvas africanas, pelas estepes asiáticas ou pelas vastas savanas] é também “amigo”, “causa” e “companheiro” na morte de milhões e milhões de seres que fogem, calcorreando os muitos “corredores da morte” à procura do maná, da terra prometida, da salvação e de algo para comer … e para beber.
Eu não pertenço a nenhuma destas organizações, cuja bandeira é a defesa da vida no mundo, que erguem a sua voz e apoiam, com intervenções no terreno, os famintos, os refugiados, os injustiçados, as vítimas da guerra e dos massacres sem rosto, os explorados, os sem abrigo, os inválidos e estropiados causados pela venda iníqua de armas. Muito longe da casa onde eu vivo, mas também ao pé de mim.
Não pertenço, mas apoio, com a ajuda que posso dar, os homens e mulheres que lutam pelo bem da humanidade e pelo equilíbrio do planeta, muitos deles anónimos mas de coração a transbordar de amor pelo próximo e por esta terra que todos, mas todos, sem excepção, devíamos amar.
Como disse, ao princípio, vou voltar aqui, nestas linhas e no cantinho deste jornal, ao Planeta Azul e ao Tema da ÁGUA, esse elemento bendito e amigo, que não me cansarei de defender, em todos os momentos e de todas as formas e forças que tiver.
Por quem, amiga Água, tantos te procuram e tantos também morrem por ti…..
Ponta Delgada, 25 de Julho de 2006
José Rogério da Apresentação