pinceladas vivas

um blog mantido por José Rogério da Apresentação

Monday, December 30, 2013

Pinceladas Vivas -12

Dias do meu contentamento

Por aqueles dias, estávamos nos princípios de Setembro. Era a altura das vindimas. A avó Olinda era ainda uma mulher robusta e viçosa, apesar dos seus cabelos grisalhos, e da idade já ir avançada. Havíamos planeado dar uma volta pelos campos, a apanhar amoras e caracóis. Eu estava com 10 anos, naquele Setembro de 58. Meus primos Virgolino, mais novo que eu 2 anos, e Luís, então com 6 anos, filhos da Tia Ivone, iam também connosco.
- Levem os farnéis. - dizia a Tia Ivone, mãe do Virgolino e do Luís, indicando as pequenas sacolas, em formato de mochilas, de pano cru verde, com 2 alças cruzadas, dentro das quais estava um pequeno pão com chouriço cozido,  2 maçãs e um recipiente com água. Fora no ano anterior que ela e a Avó tinham estado a costurar estas peças de transporte. - O almoço estrá pronto à roda da uma hora. Não venham tarde, senão apanham tudo frio. E já sabem como eu gosto de ter todos na mesa ao mesmo tempo.
Eram 9 horas da manhã. Tínhamos todos acabado de tomar o pequeno almoço truculento, uma refeição de café, pão com aquele doce de tomate (verdadeira especialidade da Tia!), de canela à mistura, mais 1 pastel de nata para aconchegar. O Tio António não fora trabalhar naquele dia, devido a uma forte gripe que j´´a o retinha em casa há 2 dias. Era empregado nas Companhias Reunidas de Gaz e Electricidade, em Lisboa, para onde seguia todos os dias, a horas em que ainda estávamos todos a dormir. O marido da Tia Ivone era naquele tempo um exímio tocador de pífaros e ocarinas, com as quais passava largas faixas do dia, compondo e tocando deliciosas melodias, que nós ouvíamos Quinta de Santa Rita abaixo.
Com os conselhos avisados da Tia, os 3 rapazes e a avó sairam da casa, no afã de aproveitarem as 4 horas dadas para apanharem a maior quantidade possível de amoras e caracóis. A família era doida por caracóis, com os quais o Tio António fazia petiscos verdadeiramente divinais. Com as amoras, a Ivone confecionava doce, bolos e licores, cujos sabores deliciosos ainda hoje, volvidos mais de 50 anos, me fazem saliva na boca.
A casa da Tia, era de renda, de estrutura rural, estava localizada no alto da Quinta, à esquerda dum amontoado quadrado de casas, cuja parte da frente tinha a adega onde áí a dias iam fazer o vinho novo, ao lado da qual estava a porta de acesso da residência da Ti Dolores, cujo marido, o Ti Silvestre, era o capataz da Quinta, Na parte da direita ficava a porta de serviço por onde habitualmente a família do capataz entrava. Na parte detrás, ficava um poço, donde era retirada a água. A toda a volta deste conglomerado de casas, situava-se um terreno vasto de quinta, apinhado de árvores de fruta de várias qualidades. Descemos o carreiro, em declive, de areia e pedras roladas,  passámos   junto à abegoria dos animais de trabalho da quinta, um pouco mais abaixo, à direita do caminho, contornámos depois à direita, passámos junto à casa da Preciosa, a vizinha, mãe dos 3 putos que brincavam  connosco, e passando ao lado da casa do José da Cunha, entrámos no caminho de terra batida entre o muro baixo da Quinta do Pena Joia e o outro muito alto de Santa Rita. Por esta via estreita acedíamos ao lugarejo da Penajoia, um lugar de gente feliz, de músicos, cantadores e dançarinos. A aldeia, orlada por casas dos moradores dum lado e do outro da via, tinha ao centro um largo ajardinado, com recantos perfumados e coberto de flores e vegetação verdejante, onde se
podiam ver vários bancos de ferro e madeira pintada de verde, dispostos ao lado uns dos outros até ao grande chafariz. Aqui acabava o pequeno povoado, com a estrada  de terra a encruzilhar com uma outra, asfaltada, ligando o lugar da Venda da Penajoia até à Estrada do Casquilho, um bom bocado mais abaixo.

Tuesday, December 25, 2007

Pinceladas Vivas -11

Regressei finalmente.....


Exactamente hoje, dia de Natal/2007, regresso - espero que em força... - depois de tão longa ausência, para continuar a alimentar com escritos, fotos e videos esta página de blog.


A minha actividade profissional tem sido febril, razão, entre outras, para ter "desprezado" este espaço durante tanto tempo. Vou, por isso, fazer o possível para ser mais regular...


As próximas "Pinceladas Vivas" irão reproduzir crónicas de viagens a Estocolmo, Viena, Dublin e Vancouver, recheadas de fotos inéditas. Em Outubro passado, estive no Encontro do Interline, realizado na região maravilhosa do Alto Minho, com bases em explêndidos hotéis em Vila Nova da Cerveira e em Valença. Foram dias intensos de convívio salutar e franco, durante os quais os participantes (para cima duma centena) tiveram o ensejo de se regalarem com as lindíssimas paisagens minhotas, com os ricos paladares da sua cozinha gastronómica tradicional, servidos, e bem acompanhados dos seus deliciosos vinhos verdes, em restaurantes engalanados a preceito, em Valença, Vila Nova da Cerveira, Melgaço e Ponte de Lima. No decurso das refeições, os sócios do Interline e convidados, foram presenteados com o colorido, a música, a dança e as vozes dos principais ranchos folclores da Região. Uma reportagem será feita no próximo "Pinceladas Vivas", densamente decorada com um conjunto de fotos que tirei expressamente para decorar este evento.


Vou, pois, à semelhança do que têm sido as crónicas anteriores, continuar a presentear os leitores com temas frescos, lúdicos e bem dispostos, querendo com isso cimentar laços de profunda amizade e de são convívio com todos os leitores.


É exactamente, por isso, que peço a todos os que lêm este blog, que façam comentários, apresentem críticas, me dêm dicas para tornar tudo isto mais atraente e mais apetecível a todos vós.


Gostaria, também, que este espaço se tornasse doravante uma oportunidade de são convívio, de galhofa e brincadeira entre todos nós. Este blog poderá, assim, tornar-se mais numa forma amena e harmoniosa de passarmos todos um tempo mais alegre e mais bem disposto.


Num grande abraço cordial, peço a todos os leitores a vossa colaboração, ajuda e apoio.


Bem hajam....


J Rogério

25.12.2007 (às 02:00 horas da manhã)

Saturday, July 29, 2006

Pinceladas Vivas - 10

Água bendita, quando se morre por ti

Este é o 1º de 3 artigos que desejo dedicar à água, esse bem precioso e vital para o nosso planeta. Vezes sem conta, tenho sido um arauto da defesa da água, um recurso que, também não raras vezes, as populações do mundo não se dão conta de quanto desprezam e de quanto o desperdiçam.

Não sou, por princípio, dos que embandeiram ou pertencem ao grupo dos ambientalistas, dos verdes, dos amigos da terra, das organizações mundiais interessantes que se batem pela pureza dos mares, da vida, dos climas, que lutam contra a poluição e o aquecimento do planeta, que gritam contra as caçadas desenfreadas sobre as espécies em extinção, que erguem as vozes denunciando a exploração sem freio das energias não renováveis e os consequentes desequilíbrios ecológicos que colocam em perigo a harmonia deste maravilhoso mundo em que vivemos.

Respeito as muitas vozes que bradam, cruzando oceanos e continentes, e que se erguem contra o aquecimento do globo, a desertificação e aridez de vastas áreas que outrora foram férteis, viçosas, cheias de água abundante e verdejantes, o desaparecimento de animais e plantas que embelezavam e davam vida e cor a imensas pradarias luxuriantes.

Reconheço a falta das matas, dos pomares, das flores garridas em campos férteis, das searas verdes atravessadas e pujantes de papoilas vermelhas, das árvores bordejando valas e canais onde a água corria, a cantar, por entre os pios dos passarinhos, o grasnar dos patos bravos sedentos, as árvores amigas carregadas, até mais não, de frutos viçosos e suculentos, os arrozais a perder de vista, e o cheiro – magnífico, purificador e amigo dos pulmões da malta de ontem, a tal populaça rural que não sabia nem conhecia o significado dos fumos das fábricas, do tráfego caótico, dos ruídos ensurdecedores, das cores plúmbeas e escuras dos céus, das luzes coadas e poluentes que fazem chorar os olhos e dos ventos doentios, acres e secos que secam, gretam e escavam os narizes da gente, narizes que nasceram para cheirar, mas que, de geração em geração, estão a perder o olfacto, porque os aromas, os perfumes da natureza estão a desaparecer.
Tenho saudades da água e de tudo quanto a rodeava, nos regatos, ribeiros e valas que alimentavam canteiros e quintas amorosamente trabalhados, nos rios, serenos e azuis, que passavam a cantar, regando docemente tudo em volta, das nascentes e açudes que abraçavam, em milagres de amor e doçura, as florestas e matas frondosas nas suas margens, da frescura perfumada que se libertava por toda a parte, do silêncio calmo e apaziguador, aqui e ali cortado pelos estridentes sons das aves canoras e de plumagens de cores e encantos mil.

Sinto hoje nostalgia e tristeza por querer atravessar rios, ribeiros, ribeiras e regatos, e não poder, porque neles não há água, há pântanos dessorados, pestilentos, cheios de dejectos e cheiros nauseabundos. A água, bendita e fonte de vida, está a ser desprezada e está a morrer!...

A nossa geração de hoje não é amiga da água, como também não direi que é sua inimiga. Uma onda incrível de indiferença e apatia se abateu sobre este planeta azul, onde 3/4 dele é água. Mas o homem, no afã do seu progresso [ à procura daquilo que considera o seu conforto e bem estar], está a dar cabo do planeta Terra, esta´ a aniquilar os mares, os oceanos, as espécies marinhas, os bancos de peixe começam a ficar exauridos, a poluição, provocada por lixos de toda a espécie [químicos, radiológicos, nucleares, resíduos sólidos, substâncias tóxicas, …] estão a aniquilar a flora e a fauna marinha e aquática, enquanto, simultaneamente, a vegetação, outrora luxuriante e verde, amarelece, estiola e desaparece. Pântanos monstruosos erguem-se altivos, cruzados por revoadas de mosquitos, insectos e répteis que transportam doenças, pestes e a morte.


A água que, durante milénios, foi o elemento abundante, único e amigo, que matava a sede dos homens, dos animais e das plantas, deixou de ser a companheira das longas jornadas em que, quando o cansaço e a secura se abatia sobre tudo quanto tinha vida e respirava, era a amiga que aconchegava e estava sempre em todas as horas.

Aos poucos, tem vindo a ser desprezada, abandonada, olhada com suspeição e a ser substituída por outros parentes que a era das tecnologias trouxe. Foi primeiro o vinho [Ah, doce vinho!, Ah, meu verdinho, meu verdinho, não há cor igual à tua!...], depois a cerveja [loura, espumosa e de múltiplos tragos e sabores], mais recentemente os refrigerantes [as cocas, as sprites, os espumantes, com corantes ou sem eles, gaseificados, doces ou menos doces] e as polpas e sumos de frutas. Todos eles que, no entanto, e mais uma vez, precisam de ter água dentro, para subsistirem e poderem ser consumidos. Que seria de cada um deles, sem a nossa [e outra vez] amiga água!...


Mas a água, bendita e amiga, hoje também deixou de ser amiga. Passou a ser uma inimiga mortal, assassina, causadora de milhões de mortes de seres inocentes e indefesos. Não apenas seres humanos famintos e depauperados, mulheres, crianças, idosos, adultos esquálidos e frágeis, em extensas zonas degradadas do globo, como também animais que podiam ser fonte de sustento e de apoio. Morrem também, sob o efeito dos venenos e dos poluentes, com origem em toda a sorte de fontes, incluindo cadáveres e dejectos nas nascentes e pântanos infestados de insectos portadores de doenças altamente mortíferas [malária, cólera, febre amarela, e outras].

Em vastas zonas do globo terrestre onde há míngua de tudo, também o elemento água [que devia correr alegre e sadio por entre as densas matas e selvas africanas, pelas estepes asiáticas ou pelas vastas savanas] é também “amigo”, “causa” e “companheiro” na morte de milhões e milhões de seres que fogem, calcorreando os muitos “corredores da morte” à procura do maná, da terra prometida, da salvação e de algo para comer … e para beber.

Eu não pertenço a nenhuma destas organizações, cuja bandeira é a defesa da vida no mundo, que erguem a sua voz e apoiam, com intervenções no terreno, os famintos, os refugiados, os injustiçados, as vítimas da guerra e dos massacres sem rosto, os explorados, os sem abrigo, os inválidos e estropiados causados pela venda iníqua de armas. Muito longe da casa onde eu vivo, mas também ao pé de mim.

Não pertenço, mas apoio, com a ajuda que posso dar, os homens e mulheres que lutam pelo bem da humanidade e pelo equilíbrio do planeta, muitos deles anónimos mas de coração a transbordar de amor pelo próximo e por esta terra que todos, mas todos, sem excepção, devíamos amar.

Como disse, ao princípio, vou voltar aqui, nestas linhas e no cantinho deste jornal, ao Planeta Azul e ao Tema da ÁGUA, esse elemento bendito e amigo, que não me cansarei de defender, em todos os momentos e de todas as formas e forças que tiver.

Por quem, amiga Água, tantos te procuram e tantos também morrem por ti…..



Ponta Delgada, 25 de Julho de 2006


José Rogério da Apresentação

Pinceladas Vivas - 9

O bom do Günther

Agora que já passaram todas as emoções tórridas de encantos e desencantos suscitadas pelo Mundial FIFA 2006, sou tentado a fazer algumas reflexões acerca desse fenómeno de multidões e do pequeno país que nós temos e somos.

Eu e os meus amigos mais próximos e mais íntimos temos orgulho em sermos lusitanos, em termos nascido neste doce berço europeu, neste pequenino torrão lindo de morrer, e também gostamos desta nossa gente, orgulhosa da sua maravilhosa história de séculos, nação de marinheiros intrépidos e barbudos que, contra ventos e marés, rasgaram o desconhecido para “dar novos mundos ao mundo”, “nação valente e imortal” que milhares e milhares de gargantas cantaram até ficarem roucos, agitando bandeiras e cachecóis, buzinando até mais não, de cada vez que aquele grupo de bravos rapazes lusitanos do pontapé na bola, sob a batuta do sargentão brasileiro, iam galgando barreira atrás de barreira, em direcção ao momento mais apetecido: - sermos campeões do mundo!
Não chegámos lá, ficámos às portas, pertinho, pertinho, à distância de 2 jogos, em que “tínhamos” de ganhar aos franceses do “galo velho” [seus indecentes, vocês compraram o árbitro, ameaçando que iam hipotecar o Uruguai se ele não marcasse um penaltizito contra os portugas! ….] e aos italianos da massa milanesa [mas foi melhor assim, se não como é que íamos ter o extremo gozo de ver aquela cabeçada ao Materazzi?!..., Ah, ganda Zidane, assim é que é! Não se pode dar confiança a um italianozeco de meia tigela, meio tostão furado de gente!...].

E então, com estas cogitações todas, estava eu, muito satisfeitinho, a pensar com os meus botões, como tenho orgulho em ser português [“Atão” um 4º lugar não é bom?! É lá coisa de se deitar fora?! Portugal, dos velhos marinheiros e marujos, entre as 4 maiores potências do mundo da bola! Ombreando ali com italianos, franceses e alemães, os tais crónicos (mais o Brasil e a Argentina, ou o Uruguai de há 20 décadas), das finais fifescas! À frente duma data de “times” que gritavam que iam fazer isto e aquilo, assado e frito, que o campeonato do mundo já estava no papo, ainda antes de jogarem!]. Como me dá gozo em pertencer a esta raça de gente do 8 ou 80! Há 2 anos, no Euro 2004, estávamos lá, quase, quase lá, mas, pronto, vieram uns gregos endemoninhados, chatearam-nos e lá se foi o sonho de sermos campeões. Agora [isto não se faz!] foram os chatos [outra vez, vestidos de azul, como os gregos!] dos franceses [e nós que estávamos a jogar tão bem, sob os braços abençoados da Senhora de Fátima, ou da do Caravaggio, ou da de Marianfeld !....] e ficámos outra vez às portas do Céu. Que raio, vejam só se isto não é um fado, fatal como o destino?! E depois, vem a estranja chatear-nos que somos uns melancólicos, uns saudosistas de 3 costados, uns tipos que levamos a vida a lamuriar-nos, vivendo das recordações gloriosas dum passado heróico!... Não, não pode ser, a malta cá deste burgo lusitano, que diabo!, até tem razão em ser assim. Como éramos pequeninos, éramos no meio dos 4 potenciais candidatos, uns “outsiders” [mas, alto lá! - ouviu-se um rugido tremendo ecoado a viva voz pelos 4 cantos do mundo onde há patrícios nossos – somos pequeninos, mas não somos uns coitadinhos, somos os maiores …..]

É isto que me enche o peito, à medida em que, de reflexão em reflexão, pensamento rolando sobre pensamento, chego à Baviera de há 2 anos, à bela cidade da cerveja, que dá pelo nome de Munique (ou Munich, ou München), a tal onde lá na “Arena” do futebol, os 23 rapazes do Scolari caíram bravamente de pé às mãos [ou aos pés] dos gauleses. Por esse tempo, - recordo com saudade!-, conheci ali um alemão, raça pura genuína, embora traçado de raízes austríacas, dos lados de Salzburg [sim, a “la belle”, a paradisíaca cidade da “Música no coração”]. O Günther é um bom e sadio amigo. Trata-se de uma personagem bonacheirona, cara rosada e saudável, senhor dum farto bigode que acompanha todo o traçado da boca e que recurva, em cada um dos lados, em direcção ao nariz. Gosta de conversar, é tão bom falador como contador de anedotas, no fim de cada uma das quais solta sempre uma sonora e estrondosa gargalhada [ou seja, como se diz cá no nosso burgo, faz a “festa, lança os foguetes e apanha as canas”…]. Tal como é nosso amigo, é também amigo de Portugal, onde vem bastas vezes, umas em afazeres profissionais, mas a maioria para passar uns dias, usufruindo das facilidades de viajar, onde vem curtir sol e mar, e sentir o “doce pulso” da gente portuguesa que adora e que considera como o povo mais simpático e hospitaleiro do mundo. É, também, um homem culto, lê muito e muito do que lê é sobre Portugal, a sua história, a sua gente, a sua cultura e os nossos costumes e etnologia. Fala fluentemente inglês americano e um “pouquito de português de Portugal ” [como ele gosta de dizer, referindo-se ao “português brasileiro” e dele distanciando-se].

Naquela tarde, sentados numa típica cervejaria, situada mesmo no coração da capital da Baviera, entre 2 copos avantajados e repletos da espumosa e não menos famosa cerveja destes sítios, o bom do Günther, ia contando, também ele espumando, tal como a cerveja, de alegria contagiante de viver, desfiando as suas muitas viagens e aventuras pelo interior mais profundo de Portugal, parando momentaneamente no Algarve, seguindo repentinamente para o Minho e Douro, gorgolejando [como se estivesse mesmo naquele momento a beber] canecas de vinho verde tinto, carregadinho de espuma e acabadinho de fazer. Depois voava até à Madeira e detinha-se nos Açores, donde conhece apenas S. Miguel: - bela ilha, bela gente, bom peixe, e que mar!.... Depois, estranhamente, ao contrário do dia anterior, hoje não contou coisas para rir, nem as suas fartas gargalhadas se fizeram ouvir. Falou da melancolia do povo português, da sua saudade imensa, do seu agarrar histérico a um passado, sem dúvida glorioso, mas que não levanta barreiras nem cria riqueza e desenvolvimento hoje. País espectacular, segundo diz, prodigioso para o turismo, potencial criador de riqueza incomensurável com o seu clima, as suas paisagens e a terra que tudo dá e onde tudo se cria. Tolda-se-lhe o espírito, iluminado por uma tristeza profunda, porque não compreende a economia portuguesa, não entende porque as empresas e os negócios não avançam, porque a sociedade portuguesa está a “abrasileirar-se”,a transformar-se aos poucos no que tem sido o Brasil desde há muitos anos, um país enorme, riquíssimo, de energias fantásticas, mas profundamente assimétrico nos seus estratos sociais, sem classe média [ou, no mínimo, pobre], com uma multidão gritante de pessoas muito pobres, muitas no limiar da miséria, sem nada de seu, em contraste com uma minoria [cada vez mais pequena] de uns tantos anormalmente ricos, donos de poderosos empórios económicos, compradores não raras vezes de ilhas e das propriedades públicas. Portugal, afirma, poderá estar a caminhar nesta direcção, se nada for feito para travar o forte endividamento das famílias. A propensão para a poupança que é preocupação na Alemanha é substituída no “teu país” - interpela-me - por uma indómita vontade de gastar, fazendo parecer que o que é importante é o dia a dia, não o acautelar do futuro das gerações mais novas e das vindouras. O Milagre Alemão não existe, nem nunca existiu, o que existe, sim, é uma prodigiosa energia que atravessa a Germânia de lés a lés, como uma corrente fria, gélida e calculista, colocando esta nação grande em níveis de conforto e de bem estar em nada comparáveis aos vossos.

Quem dera, bom amigo, que não fosse assim, que estivesses enganado….



Ponta Delgada, 23 de Julho de 2006
José Rogério da Apresentação

Sunday, March 12, 2006

Quem sou eu?


José Rogério da Apresentação, é o meu nome.

Nasci em Setubal, a 27.12.1948 (ou seja, há já um porradão de anos!...)

Licenciado em Gestão de Empresas, sou casado com uma mulher adorável e pai de 2 bons rapazes.

O malandro desta foto, sou eu: - há 3 anos em Londres, no Palácio oficial da Raínha Isabel II.

Estava um dia de neve e com um frio de rachar....

Posso ser contactado para os emails seguintes:

j.apresentacao@sapo.pt

r.apresentacao@sapo.pt

r.apresentacao@gmail.com

pdldwsp@sata.pt

Tenho, além deste, mais os blogs seguintes:

http://pinceladassimples.blogs.sapo.pt

http://pinceladas-vivas.blospot.com

Outros contactos:

Telefone: 296-653823 (m/ morada)

Residência: Rua Ilha Terceira, 19

9500-070 Ponta Delgada

Tuesday, February 28, 2006

Poemas dos meus (1)

1. Nota Introdutória


O curso "Da leitura à escrita, da escrita lúdica ao texto poético", promovido pelo Centro de Formação das Escolas de S. Miguel e de Santa Maria, e magistralmente organizado e dado pela então Mestre, Drª Maria da Graça Borges Castanho, coadjuvada pela Licenciada, Drª Graça Maria Carvalho Borges de Sousa Menezes, havia terminado dias antes naquele inesquecível mês de Setembro de 1994.
Aquecida então pelos raios tórridos recebidos naquele curso, minha esposa, Lurdes de Oliveira, ao tempo Professora do Ensino Básico, no activo, aproveitou o ensejo duma viagem familiar, realizada poucos dias a seguir, para escrever um poema. Inicialmente, quando lhe pedi, estava renitente em publicá-lo, ainda mesmo que fosse para este blog pessoal. Blá, Blá, e à força de muita argumentação, lá consegui que ela concordásse em inseri-lo aqui nesta página. Mas só aqui - disse -, em mais lado nenhum...
O poema constitui o seu 1º ensaio - e único - de poesia. Nunca, ao longo de toda a sua vida até agora, ela tentou fazer mais alguma coisa em verso. Mas é prova da força e do vigor dos sentimentos que então viveu, constituindo, por isso, um testemunho vivo e intenso, qual pincelada impregnada de mil cores e sons, que vale a pena ser lido.
Bem gostaria, por via disso, que este blog fosse lido por muita gente, sobretudo por quantos visitam ou pretendem visitar os Açores, oriundos das paragens mais díspares. É minha intenção, doravante, fazer desta página um arauto destas 9 magníficas ilhas, disparado directamente ao coração de todos os leitores, turistas potenciais ou ainda não fidelizados.
Estas 9 ilhas são apaixonada e amorosamente beijadas por este mar indómito e revolto de águas atlânticas. Um mar que é abrigo e morada das baleias, cachalotes, golfinhos e tubarões, que é sustento rico e amigo dos pescadores que o desafiam nas suas barcaças ligeiras, mas que é, simultâneamente, mais traiçoeiro que Judas, envolvendo barcos e homens num longo abraço, amigo e às vezes mortal, fazendo-os subir e descer, cair e voltar a subir elevando-os até ao alto cimo das cristas das ondas mais violentas e mais agressivas.
Estas águas revoltas e encapeladas invadem de maresia e gosto a sal os mais recônditos cantos destes 9 pedacinhos de terra - desde Santa Maria ao Corvo - que, olhando-se uns aos outros, parecem desafiar as lonjuras deste oceano infindo, misturando, sem tempo nem espaço, as cores brancas da espuma da rebentação contra os pontões, os cais de abrigo e as rochas íngremes da costa, com os tons cinzentos e escuros da neblina e da bruma que climatizam e encantam estas estonteantes ilhas açoreanas. Os gritos das garças das aves marinhas, sobrevoando as ondas de mar alto e alteroso, misturam o verde-azul marinho com o verde viçoso, refrescante e aguado, das ilhas recortadas por canadas, caminhos e estradas orlados por sebes e canteiros de flores radiosas, convidando de forma ostensiva, mas hospitaleira, o turista distraído a lançar-se em caminhadas pedestres ou a mergulhar nas águas profundas em caçadas submarinas intermináveis.
O poema é de alguém que é natural de S. Miguel, mas que, nem por isso, deixa de viver e sentir esta ilha, em cada dia, de forma dferente. As vivências de ontem, não são o que se sente hoje, nem o que se irá viver amanhã. Por isso, a magia desta "Ilha Verde". Por isso, o encanto renovado das outras 8 ilhas, todas elas lindas e todas elas diferentes umas das outras, cada uma com os seus recortes paisagísticos, vegetação e suas gentes distintas.
O poema retrata, de forma singular e pessoal, um passeio a várias partes desta Ilha do Arcanjo. Todavia, Açores não é só S. Miguel.....
Por isso, turista e caminheiro, vem daí, estás convidado a que embarques comigo, através deste blog, para que, aos poucos, e de modo continuado e persistente, seres tu a fazeres a tua própria pesquisa dos Açores. Já mostrei aqui um bocadinho da Graciosa [à qual prometo que vou voltar em breve para reproduzir em vídeo uma pequena reportagem que fiz.]
O poema está aí, como um pequeno contributo para a descoberta da Ilha de S. Miguel ....
Original escrito por: José Rogério da Apresentação
Em: Ponta Delgada, 28.02.2006
2. Poema: S. Miguel
Original escrito por: Maria de Lurdes Ferreira de Oliveira
Em: Ponta Delgada, 08.09.1994
1.
No meu carro peguei
P´ra percorrer toda a ilha,
Fui parar à Vista do Rei,
Meu Deus... Que maravilha!:













2.

Duas lagoas, lá no fundo,
Verde e azul eram suas cores,
Pareciam dormir sono profundo
No meio de vegetação e odores.









3.

A Ribeira Grande visitei,
E à Lagoa do Fogo subi,
Onde lá no Alto avistei
Um cenário como nunca vi.






4.
Na Caldeira Velha quis eu parar,
E vejam o que se pode sentir,
Forte desejo de sobrevoar
Para todos os cantos descobrir.


5.
Segui para Vila Franca
Não deixando para trás
O lindo Ilhéu que descansa
A olhar a Senhora da Paz.



6.
Por essas estradas fora
Vi flores e recantos deslumbrantes,
Mas não querem ver que agora
Temos cheiros a enxofre penetrantes?!...

7.
Nas Furnas já eu entrava,
A Lagoa e Caldeiras fui ver,
O turista as águas provava
E dela leva garrafas com prazer.


8.
No Parque Terra Nostra entrei
Para um banho quente tomar,
E várias fotos eu tirei
Para mais tarde recordar.


9.
A Povoação passei a correr,
Mas parei um pouco a descansar
No miradouro, para de lá ver
As lombas e depois poder contar.


10.
Ao Nordeste cheguei cansada,
Mas ´inda deu pra apreciar
o Pico da Vara e a Achada
E uma vegetação linda de pasmar.


11.
No regresso quis então parar
Junto à Piscina da Lagoa,
Foi quando ouvi um menino a chamar:
"Venha cá, senhora professôa!"


12.
À zona da Caloura então demandei
Para ver os barcos de pesca chegar,
Pois muito peixe encontrei
Para quem quisesse comprar.

Tuesday, February 21, 2006

Jantar de Compadres






Aquele jantar e tal.....






Olá, compadres e companheiros de jantar, na 5ª Feira passada!...


O jantar no Brilhante esteve 100% fixe, cumprindo todos os requisitos exigidos num repasto de compadrio.

Não consigo comparar se o do ano passado na Candelária, no Restaurante, como se chamava?, "Raião", não era?, julgo que sim, se foi melhor que o deste ano de 2006.


Pelo menos, o número de compadres, acho que aumentou.

Para o Ano de 2007, voltaremos a encontrar-nos em mais um convívio alegre, sadio e bem disposto. Se Deus quiser....

José Rogério da Apresentação

Original escrito em: Ponta Delgada, 22.02.2006

Sunday, February 19, 2006

Graciosa, cantinho da cordialidade....

GRACIOSA, COM AMOR ......


....UM CANTINHO DE CORDIALIDADE
Quando me desloco a esta magnífica ilha dos Açores, baptizada de "Graciosa", e rebaptizada de "Ilha Branca", compreendo a razão e os motivos porque este pequeno cantinho açoreano, a 20 minutos de voo da Terceira, através da qual se pode ver, num quadro de matizes delirantes, nos poentes da tarde, ou nos frescos matinais, as ilhas da Terceira, S Jorge e Pico, tem estes nomes. Vezes sem conta que ali vá, fico sempre com saudades de ali voltar.




Gente graciosa, hospitaleira, paisagem amena, pequena ilha que, sem grandes pressas, duas horas de carro, dá para correr e ver tudo.



Todavia, apesar da pequenez, fica sempre uma vontade de voltar, e de rever aquilo que já foi visto: - a Gruta do Enxofre, as Termas do Carapaxo, Guadalupe, a Folga, a Praia, a pitoresca Vila de Santa cruz, o Ilhéu da Baleia ali mesmo junto ao Farol, o Monte com a linda Capela da Graça .....








..... e a Praça de Touros, uns metros abaixo, a panorâmica de Sta Cruz vista deste Monte, a alegria esfusiante do Carnaval que se vive em cada uma das suas filarmónicas e clubes...








Um redobrar de motivos que me faz, sempre que lá vou, regressar cheio de vontade de lá voltar em breve. E voltarei, certamente, para lá curtir uma semana de férias e, sobretudo, para descansar e reganhar energias. As suas gentes simples e hospitaleiras, mais a frescura e o ameno da paisagem da sua ilha, são convite para ir lá e carregar baterias....


José Rogério da Apresentação
Original escrito em: 19.02.2006